‘Chávez não é um inimigo da religião’
Hugo Chávez não pode ser considerado inimigo da religião e menos ainda da Igreja Católica, como querem apresentá-lo os hierárquicas eclesiásticos venezuelanos. A opinião é do teólogo Juan José Tamayo em artigo para o sítio Periodista Digital, 25-08-2007.
Eis o artigo.
Nos dias 14 e 15 de agosto celebraram-se em Caracas as Primeiras Jornadas sobre Teologia da Libertação por ocasião do 90ª aniversário do nascimento do monsenhor Oscar Arnulfo Romero, arcebispo salvadorenho assassinado pelos esquadrões da morte em 1980. No mesmo dia de abertura do evento teve lugar a apresentação do projeto de Reforma Constitucional pelo presidente da República da Venezuela Hugo Chávez.
Hugo Chávez não pode ser considerado inimigo da religião e menos ainda da Igreja Católica como querem apresentá-lo os hierárquicas eclesiásticos venezuelanos. Ele se define como cristão, seguidor de Jesus de Nazaré e em reiteradas ocasiões tem dito que seu projeto político se inspira na teologia da libertação e na Doutrina Social da Igreja. Numerosos são os coletivos cristãos venezuelanos de distintas igrejas que apóiam criticamente a revolução bolivariana como se manifestou na Jornadas.
Estas foram um exercício de teologia da libertação com três momentos: análise crítica da realidade, juízo ético à luz do evangelho e proposta de caminhos para a transformação pessoal e social num horizonte de um cristianismo libertador. Esse foi o método que orientou as mesas de trabalho realizadas em quatro bairros de cidade de Caracas (Catia, Caricuao, Petare e El Valle), onde os moradores se agruparam espontaneamente para refletir sobre os problemas mais agudos do mundo e, especialmente, da sociedade venezuelana. Teoria e práxis, reflexão e experiência, evangelho e vida, ortodoxia e ortopraxis, oração e compromisso, espírito e libertação, deixaram de caminhar em paralelo ou em oposição para fazê-lo em interação fecunda e interpelante.
Muitos dão por morta a teologia da libertação, mas se trata de um desejo mais do que uma realidade. Sobre ela se tem estendido um véu de silêncio, mas em vão porque ela fala através do compromisso dos cristãos e das lutas dos pobres. Resulta difícil, para não dizer impossível, eliminar ou silenciar a teologia da libertação surgida na América Latina ao final dos anos sessenta do século passado, porque não se move no horizonte da razão pura e menos ainda da razão cínica, mas sim da razão prática e enquanto existirem cristãos e cristãs que vivam a sua fé na perspectiva ético-libertadora, ela não vai desaparecer. Além disso, não é uma teologia de sacristia que cheira a incenso e fomenta as obras assistenciais, mas teologia da realidade histórica transformadora.
A teologia da libertação se re-pensa e re-formula dentro dos processos históricos a partir dos novos sujeitos protagonistas da transformação: as mulheres dupla ou triplamente oprimidas, as comunidades indígenas historicamente subjugadas, os afro-descentes cujas culturas tem sido sacrificadas, os continentes e povos inteiros excluídos da globalização, a terra submetida a um desenvolvimento técnico-científico depredador, os camponeses, os meninos e meninas de rua, etc
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